Campinas recebeu, nesta terça-feira (25), a cerimônia de abertura do Prêmio Nacional da Qualidade em Saneamento (PNQS), considerado o “Oscar do Saneamento” e reconhecido como o único prêmio dedicado à excelência em gestão do setor em todo o mundo. A noite começou com uma apresentação emocionante: a cantora Naty Morais interpretou o Hino Nacional acompanhada pelo Quinteto de Cordas da Orquestra Sinfônica de Campinas, dando o tom solene ao evento que reúne as principais lideranças e companhias do país.
O presidente nacional da ABES, Marcel Sanches, declarou aberta a edição de 2025 e destacou o caráter dinâmico e transformador do prêmio. Segundo ele, o PNQS se consolida como um movimento vivo, que estimula cada companhia de saneamento a refletir sobre os impactos de suas decisões, fortalecer a gestão e ampliar a eficiência. Marcel reforçou a dimensão nacional e internacional da iniciativa, lembrando a missão de estudos realizada recentemente na Espanha, e enfatizou que mais de 850 organizações já participaram do programa, formando uma rede sólida de profissionais comprometidos com qualidade, inovação e universalização.
A programação da noite seguiu com o painel inaugural “Caminhos estratégicos para o desenvolvimento do saneamento”, reunindo Célio Bertolo Pereira, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA); Ester Feche Guimarães, diretora de Serviços de Água e Saneamento da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo; Marco Antônio dos Santos, diretor técnico da Sanasa representando o prefeito de Campinas, Dário Saad; e Pedro Cláudio da Silva, diretor da Sanasa representando o presidente Manuelito Magalhães Júnior. A mediação foi conduzida por Josivan Cardoso Moreno, secretário-geral do Comitê Nacional da Qualidade da ABES, que abriu a discussão ressaltando que as transformações do setor acontecem ano após ano graças ao trabalho diário dos profissionais que fazem o saneamento se mover no país.
Em sua fala, Ester Guimarães destacou o protagonismo feminino no setor, reforçando o papel da ABES em abrir espaços de liderança para as mulheres e lembrando que debates sobre infraestrutura, saúde coletiva, sustentabilidade e regulação precisam incorporar essa pluralidade de perspectivas. Ela abordou a importância de políticas públicas estáveis, capazes de assegurar previsibilidade e continuidade aos projetos, e chamou atenção para desafios como desigualdades regionais, mudanças no regime de chuvas, ausência de políticas robustas de drenagem e a necessidade de modelos inovadores de engenharia aliados à revisão de parâmetros técnicos. Para ela, enfrentar eventos climáticos extremos e garantir segurança hídrica exigirá o envolvimento de múltiplas partes interessadas e o fortalecimento da gestão pública.
Célio Bertolo reforçou que não há desenvolvimento sustentável sem universalização, e defendeu que o conceito deve ser incorporado como meta essencial. Ele apontou desafios históricos do setor, como as lacunas na cobertura de áreas rurais, e lembrou que as mudanças climáticas afetam diretamente a infraestrutura de saneamento. Destacou ainda que o país enfrenta vazios regulatórios em muitos municípios e que a ANA trabalha, desde 2020, para harmonizar normas e fortalecer a regulação, especialmente em territórios mais vulneráveis.
Falando a partir da experiência municipal, Marco Antônio dos Santos ressaltou que Campinas antecipou em dez anos o atendimento às metas do marco regulatório e que esse desempenho está ligado à continuidade administrativa e ao planejamento de longo prazo. Segundo ele, não é possível construir políticas sustentáveis sem metas claras, estratégias alinhadas e processos internos avaliados com rigor. Ele lembrou que “levar água e esgoto é levar dignidade” e ressaltou a contribuição do PNQS ao oferecer diretrizes e indicadores que aprimoram a gestão.
Pedro Cláudio da Silva apontou que o maior desafio para o setor é alcançar a universalização até 2033, o que exigirá investimentos expressivos e condições macroeconômicas favoráveis. Ele alertou que as altas taxas de juros dificultam a execução dos investimentos necessários e destacou que, a partir de 2026, as companhias terão a obrigatoriedade de implementar as normas de sustentabilidade, algo que a Sanasa já iniciou, mas que representa um desafio significativo para muitas operadoras do país.
Na etapa final do debate, os participantes convergiram sobre a necessidade de combinar eficiência, planejamento e políticas que garantam equidade entre regiões. Ester reforçou que o capital privado é fundamental, mas insuficiente em alguns contextos, destacando programas estaduais que buscam equilibrar economicamente contratos e assegurar atendimento integral aos municípios. Célio lembrou que, em regiões onde predomina a tarifa social, a presença do Estado é indispensável para garantir sustentabilidade e continuidade dos serviços. Josivan concluiu que financiamento, qualidade de projetos e capacidade de execução serão temas centrais para o futuro da universalização no país.
A cerimônia terminou com o tradicional sorteio da ordem dos cases que serão apresentados no Seminário de Benchmarking, etapa essencial para que companhias de todo o Brasil compartilhem seus resultados, aprendizados e métodos de excelência.
PNQS
Criado em 1997, o PNQS adota o MEGSA, considerado o modelo de excelência mais avançado do mundo para a gestão em saneamento. É a partir dessa metodologia que são avaliadas as categorias AMEGSA, IGS, PEOS, PGA, SQF e SQR. O ciclo anual envolve a análise das candidaturas, o Seminário de Benchmarking , um espaço em que as melhores práticas são compartilhadas, e culmina com a cerimônia que consagrou o prêmio como referência global no setor.
